Sabe aqueles filmes repetidos da
“Sessão da Tarde”, na programação da Rede Globo, que todo mundo já assistiu
várias vezes? Eles foram o pontapé inicial para inspirar um projeto cativante:
não deixar morrer a Sétima Arte no Sertão de Alagoas. Em Major Izidoro, ninguém
pode reclamar que não tem cinema. O Cine Jaburu preenche as noites de
quinta-feira há um ano, no histórico bairro do Alto da Cila. Com uma paixão por
filmes, o criador do projeto, o radialista Nicélio Leite, 39 anos, carrega nos
ombros uma grande responsabilidade; a de manter o único projeto cultural
continuado do município. Tudo sai do bolso dele e de outros quatro
colaboradores. Toda noite de quinta-feira é o mesmo ritual. O grupo vai até o
bairro, monta o equipamento para projetar o filme, arruma as cadeiras e ainda
arranja tempo para preparar a pipoca – item indispensável para qualquer cinema
–, e distribuir de graça a todos que comparecerem. Impreterivelmente às 19
horas a magia começa. Em um telão de 100 polegadas, os filmes são projetados
para pouco mais de 40 visitantes, amparados por um sistema organizado de cones
e isolamento do local, para que nada atrapalhe a sessão. Tudo transcorre dessa
maneira desde o dia 23 de maio de 2013.
Revivendo os tempos de Jaburu
Quem não é da cidade sertaneja,
certamente estranha a palavra “Jaburu”, que da nome ao cinema. Jaburu nada mais
era que outro amante da Sétima Arte. Jarbas Cassiano foi o pioneiro na ousadia
de querer ir além. Na pacata cidade do interior de Alagoas nos anos 70, ele
começou a fazer o que Nicélio realiza hoje: levar as histórias contadas em tela
para os moradores. Sem vacilar, ele fez isso por 20 anos.
Quando o vereador morreu, levou
junto com ele o projeto, que só veio renascer pelas mãos do radialista, três
anos depois da morte de Jarbas. Para tentar explicar a fascinação pelo cinema e
pela necessidade de compartilhar esse sentimento com as pessoas, o radialista,
em sua simplicidade, fala de forma natural que sua intenção é “divertir a
comunidade izidorense através dos filmes levando cultura e educação de graça”. De
graça também é o valor pelo qual Nicélio e o grupo de aficionados por cinema
trabalham para o projeto. “O poder público não da nem um real”, lamenta Leite,
diante da realidade quase intransponível (e rotineira) de não apoio à cultura
nas cidades do inteiro de Alagoas. Com alguns poucos apoiadores, cada sessão,
realizada semanalmente, custa pouco mais de R$ 30,00. “Sempre que falta alguma
coisa eu complemento”, diz.
Da Sessão da Tarde para o Alto da Cila
Nicélio assistia os filmes da
“Sessão da Tarde” quando criança. Ele cresceu, tornou-se radialista, casou,
teve dois filhos, mas a paixão por filmes continuava inerente a ele. Quando a
vontade é persistente, o destino toma conta de dar chão para o sonho caminhar.
O radialista Izidorense começou a
comprar os filmes. Foi acumulando; de um em um chegou a mais de 450. “Não era
justo este material só eu e meus amigos conhecer”, explica ele ao chegar em casa
um dia e, de repente, ter a ideia de compartilhar a mágica do cinema com toda a
cidade. Nasceu o Cine Jaburu e com ele a vontade de levar cultura à população.
O grupo da preferência a filmes baseados em fatos reais, mas não ficam presos
ao gênero e exibem desde a comédia ao drama. Sempre guardo os filmes em um HD
externo para não correr o risco de perder. Tenho um acervo que só vendo para
crer; tenho material para anos a fio. Faço tudo por amor á cultura e à arte”,
declara. ( Matéria produzida por: Kamylla Lima ).
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